terça-feira, janeiro 04, 2005

Na corrente do Bengo (2)

Do largo da Mutamba, subiu devagar a leve inclinação que leva os transeuntes até à parte alta de Luanda onde ficam o Maianga e alguns edifícios militares da época colonial reconvertidos. A Alameda Afonso Henriques vendia sombras e cheiros que lhe pareciam estranhos. Agora tudo se vende, pensou; e quanto mais se vende menos há para vender. Meios tons e mais buracos, manchas e casas sem vidros. Tinha saudades da Luanda doutras eras, dos aromas e das cores que enchiam os ares, mas a fé num país novo tinha-o forçado a ficar e a passar por todas as dificuldades e desafios. Haveria de mudar um dia; a paz recente fez despertar de novo a vontade de ficar, o amor por este país estava enraizado na sua alma.
Tinha vindo desde a Restinga a olhar demoradamente a língua de areia a que os locais chamam de ilha, que separa as águas da baía das do oceano e que banha o Mussulo. Continuou junto à baía, regressando ao Estádio dos Coqueiros junto à orla do mar, como que a querer reviver os dias vividos projectando-os no futuro! Parou um pouco no Largo Serpa Pinto como se tivesse entrado na máquina do tempo...
Aquele telefonema tinha-lhe relembrado episódios dramáticos ocorridos uns anos antes. E aquela voz... pensou que tivesse morrido. Mas se não morreu de quem seria o corpo carbonizado encontrado junto ao mercedes metralhado? Num sítio onde nada se resolve, tinha sido espantoso o desfecho rápido do caso. Mas agora que começava a juntar tudo, receava pela sua segurança. Algo de muito sério se tinha passado e ele era um elo forte. O seu testemunho poderia desfazer álibis e incriminar gente importante. Todo o cuidado era pouco. Foi ao encontro marcado seguindo o percurso que lhe deram, garantido que não era seguido.
Do outro lado do largo do Maianga estava um carro parado. Lá dentro alguém lhe fez sinal....
(Charlie)



Largo do Maianga

9 Comments:

Blogger João Mãos de Tesoura said...

Carlos, desculpa a adaptação mas fi-la para manter o estilo.
Obrigado pelo texto!

6/07/2005 1:55 da manhã  
Blogger Raquel Vasconcelos said...

Tive que vir ler de novo... é estranho como guardamos sentimentos dentro de nós que nem imaginávamos sentir...
Uma dor fininha no peito... saudades... nunca as tinhas sentido assim, ou nunca tinha lido nada que se parecesse tanto com trazer o passado a um contexto mais real que o sonho.
Aconteceu. Existiu. Era feito de ruas, carros, pastelarias onde comia o meu bolo favorito.
Passeios até à praia.
A mão do pai ou da mãe...
O carro que um dia largámos no meio da rua pq cheirava a queimado... as lojas que recordo mal.
A escola que como flores tb tinham malaguetas.
O sol de manhã.
Um baloiço de ferro... era só meu, no meu jardim.
Parte da minha infância.

6/08/2005 9:54 da manhã  
Blogger Raquel Vasconcelos said...

Cadê o resto? não há mais?

6/17/2005 10:50 da manhã  
Blogger Ivone Medeiros said...

Temos de dar continuação a esta história, isto não pode acabar assim.

6/20/2005 6:05 da tarde  
Blogger Raquel Vasconcelos said...

Claro que não!

Cadê a PUB joão?
Sem pub n se chega a lado algum ;)

6/28/2005 4:54 da tarde  
Blogger Ivone Medeiros said...

Voltas-te a escrever aqui.... bem tenho de reler tudo para continuar a história, assim não consigo!

beijinhos

7/13/2006 1:07 da tarde  
Blogger Thiago Forrest Gump said...

João, já coloquei no forno!

Vou preparar com calma que não posso errar o ponto! ;)

7/26/2006 12:43 da manhã  
Blogger Thiago Forrest Gump said...

Ok, ok João!

Prefere o quê? Mando por email ou posso colocar direto aqui?



Abraços

7/29/2006 4:07 da tarde  
Blogger Thiago Forrest Gump said...

Bom João, mandei para teu email.


Espero que não esteja tão mau.



Abraços

7/30/2006 6:51 da manhã  

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