O engano (2)
Instalado o mistério, agora só faltava descobrir todas as peças do puzzle e depois juntá-las…
“ Porque raio me mentiu ela?”- pensava Ricardo enquanto se dirigia ao elevador.
Tão absorto estava que nem se dera conta de alguém que seguia todos os seus gestos.
“Vou pôr-me em campo e tratar de fazer alguns telefonemas!”
Começaria por telefonar para a empresa onde Eva trabalhava. Mas, à medida que organizava ideias e tomava decisões, ia-se instalando algum desconforto e muitas dúvidas.
Entrou no quarto e sem prestar grande atenção ao espaço que o rodeava, procurou o telefone...
(Eva[são])
Do outro lado da linha o sinal continuo de "ocupado". O nervosismo começava a aumentar, pois cada chamada era uma tentativa falhada. O telemóvel de Eva estava desligado e do escritório dela ninguém atendia. O que se passaria? Sentia-se completamente desorientado.
Arrefecer as ideias. Era isso que necessitava fazer. Um duche talvez não fosse má ideia. Como um autómato dirigiu-se à casa de banho e abriu a torneira da água quente. Voltou atrás e olhou o telefone pensativamente. Entrou no banho para relaxar. Nada como um longo duche de água quente. Sempre fora este o método mais eficaz de por as ideias em ordem, nunca falhara, não iria ser agora.
Completamente absorto nem se deu conta da entrada de alguém no quarto. Subitamente apercebeu-se de que não estava só, pois havia qualquer coisa no ar que denunciava uma presença. Ricardo reconheceu o odor que lhe entrava pelas narinas e lhe enchia os pulmões. Eva estava ali. Cego de todos os sentidos nem se questionou como ela teria entrado.
Envolto numa toalha irrompeu no quarto. Não se enganara. Ali estava Eva, como uma miragem, mais sedutora do que nunca.
(Cherry Pie)
Ricardo, estupefacto, balbuciou: mas, não vinhas... às cinco?
Eva: hmmm... parece que não gostaste de me ver... (sorriso)
Ricardo, disfarçando: sempre que te vejo fico assim, aparvalhado...
Eva: hahaha! Gostava de te ver com essa cara, há-de vir o dia...
Ele, aproximando-se, agarrou-a e olhando-a nos olhos penetrou para além do azul; o seu olhar era sedutor, era ele quem dominava. Eva, percebendo o momento, deixou-se ir na corrente do desejo. Ricardo levantou-a no ar e deixou-a enredar as pernas no seu torso. Enquanto se beijavam apaixonadamente, percorreu o quarto até a encostar à parede, mesmo ao lado da cama de dossel em ferro forjado, uma peça única, como todas as outras do hotel. Ela gemeu no embate, sorrindo de seguida a aprovar o desafio. Eva desceu com as mãos no peito e, num movimento só, arranhou-lhe a pele.
Ricardo: estás louca?
Eva, sorrindo: no rules... ok!
Ricardo: no skin... for sure!
Eva: hahaha! Adoro-te!
Deixando-se cair para o lado, Ricardo projectou-a para cima da cama. O colchão devolveu-a como uma mola num pequeno salto que a fez rir. Abraçaram-se e rebolaram na cama como dois miúdos. Eva ficara por cima dele, sentada, com um sorriso provocador.
Eva: fecha os olhos!
Ricardo: para quê?
Eva: nunca se questiona uma surpresa!
Ricardo, fechando os olhos, deixou escapar um longo suspiro como quem espera o prazer; sentia-se egoísta, queria receber. Eva, agarrando um lenço pousado numa das mesinhas de cabeceira, vendou-lhe os olhos.
Ricardo: que fazes?
Eva: calma, vais gostar!
Não lhe falaria agora, pensou, teria de haver uma explicação plausível. Aquela mulher nunca fora mistério, desde o início que lhe mostrou as cartas e ele conhecia bem as amarras e caminhos por onde ela andava. Fora sempre franca, nunca lhe escondera nada, nunca, nem os temas mais íntimos como um aborto...
Eva, agarrando-lhe um pulso, algemou-o à cabeceira num gesto rápido. Ainda não se tinha recomposto da surpresa e já Eva lhe algemara o outro pulso. Ela, pressentindo o espanto disse-lhe, “relaxa... estás por minha conta e vou-te levar aonde nunca foste, nem nos teus sonhos mais loucos!”
Batem à porta insistentemente.
Ricardo: o que se passa?
Agora o tom era de pânico. Eva, retirou-lhe a venda e colocando-lhe o indicador na boca fez, “Schhhh!”. Levantou-se, recompôs o vestido e dirigiu-se à porta da suite que ficava noutra sala. Ele conseguia ouvir as vozes em sussurro, como se quisessem esconder algo. O tempo parecia uma infinidade e Ricardo começava a impacientar-se, foi então que gritou, “Eva, então?!”.
Os passos fizeram-se sentir na sua direcção, não seria só ela, viria acompanhada. Entraram no quarto; ao lado de Eva uma mulher asiática, japonesa pelos traços ligeiramente angulosos que as diferenciam das chinesas; esta dispara de pronto: “Is this the guy?”. Eva, sorrindo, confirma com um movimento de cabeça. Saem do quarto deixando atrás de si a porta fechada. Ricardo não esboçou um gesto, não proferiu uma palavra. O assombro era tal que não percebera que estava encarcerado no seu próprio quarto.
(João Mãos de Tesoura)
Preso ao amor...
“ Porque raio me mentiu ela?”- pensava Ricardo enquanto se dirigia ao elevador.
Tão absorto estava que nem se dera conta de alguém que seguia todos os seus gestos.
“Vou pôr-me em campo e tratar de fazer alguns telefonemas!”
Começaria por telefonar para a empresa onde Eva trabalhava. Mas, à medida que organizava ideias e tomava decisões, ia-se instalando algum desconforto e muitas dúvidas.
Entrou no quarto e sem prestar grande atenção ao espaço que o rodeava, procurou o telefone...
(Eva[são])
Do outro lado da linha o sinal continuo de "ocupado". O nervosismo começava a aumentar, pois cada chamada era uma tentativa falhada. O telemóvel de Eva estava desligado e do escritório dela ninguém atendia. O que se passaria? Sentia-se completamente desorientado.
Arrefecer as ideias. Era isso que necessitava fazer. Um duche talvez não fosse má ideia. Como um autómato dirigiu-se à casa de banho e abriu a torneira da água quente. Voltou atrás e olhou o telefone pensativamente. Entrou no banho para relaxar. Nada como um longo duche de água quente. Sempre fora este o método mais eficaz de por as ideias em ordem, nunca falhara, não iria ser agora.
Completamente absorto nem se deu conta da entrada de alguém no quarto. Subitamente apercebeu-se de que não estava só, pois havia qualquer coisa no ar que denunciava uma presença. Ricardo reconheceu o odor que lhe entrava pelas narinas e lhe enchia os pulmões. Eva estava ali. Cego de todos os sentidos nem se questionou como ela teria entrado.
Envolto numa toalha irrompeu no quarto. Não se enganara. Ali estava Eva, como uma miragem, mais sedutora do que nunca.
(Cherry Pie)
Ricardo, estupefacto, balbuciou: mas, não vinhas... às cinco?
Eva: hmmm... parece que não gostaste de me ver... (sorriso)
Ricardo, disfarçando: sempre que te vejo fico assim, aparvalhado...
Eva: hahaha! Gostava de te ver com essa cara, há-de vir o dia...
Ele, aproximando-se, agarrou-a e olhando-a nos olhos penetrou para além do azul; o seu olhar era sedutor, era ele quem dominava. Eva, percebendo o momento, deixou-se ir na corrente do desejo. Ricardo levantou-a no ar e deixou-a enredar as pernas no seu torso. Enquanto se beijavam apaixonadamente, percorreu o quarto até a encostar à parede, mesmo ao lado da cama de dossel em ferro forjado, uma peça única, como todas as outras do hotel. Ela gemeu no embate, sorrindo de seguida a aprovar o desafio. Eva desceu com as mãos no peito e, num movimento só, arranhou-lhe a pele.
Ricardo: estás louca?
Eva, sorrindo: no rules... ok!
Ricardo: no skin... for sure!
Eva: hahaha! Adoro-te!
Deixando-se cair para o lado, Ricardo projectou-a para cima da cama. O colchão devolveu-a como uma mola num pequeno salto que a fez rir. Abraçaram-se e rebolaram na cama como dois miúdos. Eva ficara por cima dele, sentada, com um sorriso provocador.
Eva: fecha os olhos!
Ricardo: para quê?
Eva: nunca se questiona uma surpresa!
Ricardo, fechando os olhos, deixou escapar um longo suspiro como quem espera o prazer; sentia-se egoísta, queria receber. Eva, agarrando um lenço pousado numa das mesinhas de cabeceira, vendou-lhe os olhos.
Ricardo: que fazes?
Eva: calma, vais gostar!
Não lhe falaria agora, pensou, teria de haver uma explicação plausível. Aquela mulher nunca fora mistério, desde o início que lhe mostrou as cartas e ele conhecia bem as amarras e caminhos por onde ela andava. Fora sempre franca, nunca lhe escondera nada, nunca, nem os temas mais íntimos como um aborto...
Eva, agarrando-lhe um pulso, algemou-o à cabeceira num gesto rápido. Ainda não se tinha recomposto da surpresa e já Eva lhe algemara o outro pulso. Ela, pressentindo o espanto disse-lhe, “relaxa... estás por minha conta e vou-te levar aonde nunca foste, nem nos teus sonhos mais loucos!”
Batem à porta insistentemente.
Ricardo: o que se passa?
Agora o tom era de pânico. Eva, retirou-lhe a venda e colocando-lhe o indicador na boca fez, “Schhhh!”. Levantou-se, recompôs o vestido e dirigiu-se à porta da suite que ficava noutra sala. Ele conseguia ouvir as vozes em sussurro, como se quisessem esconder algo. O tempo parecia uma infinidade e Ricardo começava a impacientar-se, foi então que gritou, “Eva, então?!”.
Os passos fizeram-se sentir na sua direcção, não seria só ela, viria acompanhada. Entraram no quarto; ao lado de Eva uma mulher asiática, japonesa pelos traços ligeiramente angulosos que as diferenciam das chinesas; esta dispara de pronto: “Is this the guy?”. Eva, sorrindo, confirma com um movimento de cabeça. Saem do quarto deixando atrás de si a porta fechada. Ricardo não esboçou um gesto, não proferiu uma palavra. O assombro era tal que não percebera que estava encarcerado no seu próprio quarto.
(João Mãos de Tesoura)
Preso ao amor...
1 Comments:
Ficou entregue a si próprio enquanto pelo seu espírito passavam os mais dispares pensamentos. Enquanto o silêncio tomava conta do ambiente ia reparando angustiado nos pormenores do espaço onde estava. Com esforço, rodou a cabeça e olhou para o telemóvel, tentando alcança-lo com os pés mas sem sucesso. Embora não conseguisse distinguir os números, viu como os dígitos iam mudando de minuto a minuto marcando angustiados a passagem do tempo. A pouco o pouco os sons mais íntimos iam tomando volume. Ouviu o latejar do coração nas têmporas lembrando-lhe que a vida depende apenas do bater esse bater continuo que agora tanto o incomodava. Pequenos ruídos que passavam do exterior que ele adivinhava vagamente. Por duas vezes gritara por ela mas o som perdera-se no isolamento do quarto. Os hotéis tendem a ter cada vez melhores isolamentos acústicos e ele pensou que nem um tiro de carabina chamaria a atenção fosse de quem fosse. As mãos doíam-lhe já bastante e nos pulsos estavam vincadas as algemas que as imobilizavam. Tentou rodar o corpo para uma posição mais confortável e verificou com desagrado como estava entorpecido. Quanto tempo teria já passado? Perdera toda a noção mas tinha a sensação que várias horas tinham decorrido.
Meio adormecido deu acordo de si num relance. Olhou para a porta e viu um vulto entrar. Tentou levantar-se mas com um grito de dor voltou a ficar na cama.
Gritou: - Tira-me daqui imediatamente!-
Como resposta, o vulto de roupagens até aos pés e de cabeça coberta colocou em cima da mesa um pequeno pires. Despejou o conteúdo. Umas ervas em cima das quais ele deitou umas gotas dum liquido espesso e esbranquiçado. Acendeu um isqueiro e esperou que estivesse bem incandescente. Soprou uma ou duas vezes e depois retirou-se.
Pelas franjas do lenço que tapava a cabeça e pesasse embora a fraca iluminação com que elas tinham deixado o ambiente horas antes, tinha conseguido aperceber-se que se tratava da asiática que estivera com Eva. Aos poucos, ficou tudo cheio de fumo. Um aroma doce e acre enchiam-lhe as narinas batendo-lhe directamente no cérebro. Sentiu-se transportado numa enorme nuvem de paz para um mundo onde os sonhos tomam o lugar da realidade e adormeceu.
Acordou de repente no meio duma enorme algazarra. Estava escuro e todo a cama mexia. Sentiu que não estava já algemado à cama embora continuasse com os pulsos presos. Tentou levantar-se e bateu com a cabeça em algo metálico. Caiu repentinamente numa curva. Só aí se deu conta que estava preso, de boca tapada dentro do porta bagagens dum carro...
By Charlie
xarly@hotmail.com
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