sexta-feira, fevereiro 04, 2005

O engano (4)

Pouco podia fazer, pois estava fortemente amarrado e qualquer esforço tirar-lhe-ia as energias que, provavelmente, necessitaria mais tarde. Ricardo perdeu a noção do tempo. Sentia o carro deslocar-se a uma velocidade alucinante sem uma única paragem durante, o que lhe pareceram ser, horas de viagem.
O carro parou. Mais atento que nunca Ricardo tentava escutar o que se passava do lado de fora. Deviam estar num local isolado pois só o silêncio se fazia ouvir. Sentiu passos aproximarem-se da bagageira do carro. Ficou sem saber o que fazer: fingir-se adormecido ou mostrar-se bem acordado? Naquele momento a primeira opção pareceu-lhe a mais acertada, afinal todos os seus sentidos estavam despertos.
Acompanhou com atenção todos os movimentos: alguém abriu a bagageira; foram-lhe tiradas as amarras e a mordaça e sentiu-se levado por duas pessoas - homens, certamente, pelo tamanho das mãos que o seguravam. Estava livre, mas decidiu continuar com o fingimento.
"Libertaram-me. Deste modo posso fugir se algo correr mal...como se pudesse estar a ser pior!", pensou.
Sabia que estava perto do mar: os odores não enganavam e podia ouvir as ondas a embater contra uns rochedos. Entraram numa casa. Cheirava a limpo.Só quando se sentiu pousado sobre uma cama macia e ouviu os passos dos seus sequestradores a se afastarem que Ricardo reagiu.
Abriu os olhos. Não podia acreditar no que via. O local era idílico. Estaria a sonhar? Ouviu água a correr e dirigiu-se para o local de onde vinha o som. Empurrou a porta. Numa banheira cheia de espuma estava Eva munida do seu melhor sorriso:"Amor, porque te demoraste tanto? Vem, junta-te a mim!"
(Cerejinha)



Seria tudo um jogo?

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

João,isto está a ficar empolgante!Faz-me lembrar o tempo em que comprava a revista Tintin e ficava à espera da semana seguinte para continuar as histórias!Abração

Axial

5/16/2005 2:39 da tarde  
Blogger jacky said...

Ele sentia a crescer dentro de si um turbilhão de sensações e emoções contraditórias. Por um lado, sentia-se manipulado e enganado com toda esta encenação de Eva. Quem seria ela afinal? Por que motivo o teria convidado para uma viagem a Londres para depois raptá-lo até àquele lugar? Por outro lado, desejava-a ainda mais. Todos esses contratempos, tinham despertado toda a lascívia do seu corpo.
Não lhe respondeu. Falar para quê? Agora só queria dar asas ao seu desejo...

5/16/2005 3:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sem proferir uma palavra e sem permitir que um único músculo da cara denunciasse a sua surpresa, descalçou os sapatos pausadamente e, com um gesto metódico, alinhou-os junto ao magnífico arranjo de cactos e seixos rolados do canteiro que imponentemente dominava aquele ângulo, bordejando a enorme parede de vidro sobranceira à vista de mar. Mantendo sempre a perfeita tranquilidade dos movimentos, avançou para a banheira, sem nunca desviar os seus dos olhos dela. Queria que Eva experimentasse o suspense do improvável. Não era aquele um jogo? Então, era a sua vez de jogar.
Completamente vestido, entrou na banheira como quem se afoga, deixando o corpo conduzir os anseios de dentro para fora, mas sem permitir que as sensações circulassem de fora para dentro. Sentia a água tépida alastrar pelas suas roupas, até o ensoparem, mas agia como um monstro que não sente; apenas devora. Eva, apanhada pela surpresa, imobilizou numa expressão entre o desejo e o medo. Ricardo podia, enfim, perceber que podia executar todos os seus planos de vingança; um dia era da caça, outro do caçador.

Lince da Malcata

5/16/2005 5:42 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

(sujestão de foto:)

http://photos1.blogger.com/img/119/1391/410/Rodney%20Smith.jpg

Lince da Malcata

5/16/2005 6:34 da tarde  

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