sexta-feira, fevereiro 04, 2005

O engano (6)

A expressão de Ricardo não deixava transparecer nenhuma réstia de emoção, tinha um ar penetrante e duro. As bolhas da hidromassagem invadiam a banheira; passou os dedos dos pés num gesto lento e demorado pelo corpo de Eva enquanto esta tentava alcançá-lo. Ele impediu-a de se mover num gesto delicado e ao mesmo tempo insensível, sentia que devia ser ele a dominar; as cartas estavam lançadas e ele detinha a jogada mais alta.
Eva estava deitada na banheira com a nudez que ele já conhecia; ele, vestido e ensopado, olhou-a olhos nos olhos ao mesmo tempo que o seu pé parava de a acariciar para, lentamente, ir aproximando os corpos. Eva deixou transparecer o desejo e disse em tom baixo, "Vem meu querido, sou toda tua!" e fechou os olhos à espera. Contudo, Ricardo parou, “como podia uma mulher tão bela ser tão maquiavélica”, pensou.
Esta mulher tinha enfeitiçado Ricardo. No seu íntimo ele sentia um desejo inexplicável de a possuir; aproximou o seu rosto à cara dela, começou a acariciá-la, passou a língua no pescoço, um toque apenas. Eva sentiu um arrepio, abriu os olhos e começou a desabotoar-lhe a camisa. A roupa molhada evidenciava-lhe as formas e ela, enquanto o despia, olhava maravilhada para aquele corpo perfeito sem o exagero do esforço nem a gordura sedentária. Passou-lhe as mãos pelo peito e começaram a beijar-se de uma forma selvagem e apaixonada. Nesse momento os seus corpos tocaram-se provocando em ambos a ânsia pelo passo seguinte. Ricardo estava a deixá-la completamente louca de desejo... Assim ficaram durante um tempo que pareceu infindável, até que Eva murmurou palavras que o deixaram estupefacto, "amo-te!". Ricardo, suspeitou do jogo, sorriu com ar sarcástico e disse "agora sim, estamos quites...". Levantou-se, saiu da banheira e o seu corpo desapareceu na névoa do banho.
(Eva)

Eva sentiu medo, “será que ele sabe?”. A luz apagou-se e ela recolheu as pernas num reflexo defensivo, ficando sentada na posição fetal; a escuridão foi acompanhada pelo som da água que ia e regressava em ondas provocadas pelo movimento inusitado. Olhou à volta e fixou-se no raio de luz que entrava pela fresta da porta. Milhões de gotículas dançavam no feixe, subindo e descendo num movimento caótico. Repentinamente algo se atravessou à frente do clarão, ficando o espaço confinado ao silêncio do seu pânico. Sentiu frio, um desconforto insuportável mas permaneceu imóvel; os músculos não lhe respondiam, estava completamente indefesa. Num esforço sobre-humano, esticou o braço e tacteou o chão à procura do telemóvel. O gesto era em câmara lenta, com o vagar de quem não quer ser notado. Os dedos sentiram algo, pareciam ser os seus chinelos, mas não, eram sapatos de homem. Tentou empurrá-los mas não se moveram...
(João Mãos de Tesoura)



De quem seriam estas mãos?

9 Comments:

Blogger João Mãos de Tesoura said...

Eva (a outra que não a da história): desculpa a adaptação que fiz do teu texto, mas resolvi fazer trabalho de produção como já o fizera antes. Se quiseres bate-me... eu não sou o Ricardo! :D

5/18/2005 1:56 da manhã  
Blogger Cerejinha said...

João (editor consagrado pela publicação desta história a muitas mãos), não te esqueças de actualizar o rol de autores lá em cima...eu sei, não há muito tempo, mas dá lá um jeitinho...
:-)

(Nota: O pedido é meu, não recebi nenhum suborno para tal!)

5/18/2005 12:25 da tarde  
Blogger Raquel Vasconcelos said...

hummmmmmmmm sem querer ser má ;) mas a esta história falta um nadinha de humanidade...

Os recortes são muito drásticos, com poucas nuances...

5/18/2005 1:36 da tarde  
Blogger Cerejinha said...

Raquel: Mãos à obra e introduz a humanidade no texto! Talvez falte alguém que o faça para que outros possam seguir a deixa.
;-)

5/18/2005 1:54 da tarde  
Blogger João Mãos de Tesoura said...

Cerejinha: By your command! :D
Raquel Vasconcelos: By all means! :)
Cerejinha: nem mais, comadre! ;)


Recebi tardiamente um email com esta narrativa (finalmente alguém é ousado!):

Ele parou mesmo junto à porta e virou-se para trás. Estava encharcado e a água corria-lhe espessa misturada com o gel pelo corpo abaixo.
Realmente, o que queria ele? Ali estava ela de olhos suplicantes e doces olhando meio
assustada para ele. Resolveu voltar. Entrou na água sem desviar o olhar dos olhos dela e deixou-se afundar. Durante um lapso de tempo indefinido, um silêncio tumular imperou. Consegui ouvir as milhões de micro bolhas que compõem a espuma a rebentar em vagas, num ruído quase imperceptível, mas que pareciam estar-lhe dentro da cabeça, num turbilhão confuso que se misturavam com as suas ideias.
Eva aproximou-se dele devagar afastando a espuma e procurou-lhe os
lábios. Agora uma paz invadia-o após todo este dia estranhíssimo. Baixou
completamente as guardas e deixou-se levar por ela. Eva desabotoou-lhe a camisa e despiu-a; depois meteu a mão dentro das calças e procurou-o, enquanto o beijava ternamente. Toda a ideia de vingança ligado ao rancor que sentira no quarto do Hotel desaparecera totalmente, e parecia-lhe agora apenas um sonho mau numa noite de pesadelo. Ela tirou-lhe as calças puxando lentamente pelas pernas. Toda a roupa ia ficando no fundo da banheira, como se de meros despojos se tratassem. Chegou-se mais a ele e beijaram-se ainda com suavidade. Sentia como o corpo dela se encostava gostosamente ao dele. Sentia-lhe todos os relevos do corpo ampliados pela viscosidade do banho. Rolaram agora agarrados com a paixão ditando as regras e ela voltou a ficar por cima. Tentou penetrá-la. Mas ela desviou-se e encostou-lhe o peito sem nada dizer mas pedindo com os olhos que lhe lambesse os mamilos. Enquanto
ele a saboreava, Eva segurou-lhe nos ombros e levantou-lhe os braços levando-os para junto da coluna metálica que servia de suporte às torneiras da banheira. Encostou-o bem à coluna e chegou-se a ele como se quisesse entregar ao delírio final. Num clique repentino, ela largou-o e saltou para trás. Sem saber bem como, estava algemado outra vez! Olhou para trás enquanto gritava desalmadamente, contorcendo-se e esperneando na água: “Outra vez não! libertem-me de imediato!” Mas atrás dele estava nua e sorridente a asiática que tinha visto por duas vezes no hotel. As suas mãos seguravam as chaves das algemas com que ele agora estava preso à coluna. Abanava-as como se faz a um animal de estimação quando se quer chamar a atenção. Ele estava furioso com elas e principalmente consigo próprio. Como tinha sido possível deixar-se enrolar uma segunda vez? Enquanto Eva saia do banho enrolando-se numa toalha, a asiática aproximou-se ao lado oposto onde o prisioneiro estava e lentamente entrou na água. Devagar, olhando sempre para os seus olhos de espanto e fúria e aproximou-se dele. Em inglês com sotaque disse-lhe: “Acho que estás a
gostar da surpresa que a Eva te fez! Agora relaxa! Ela vem já aí!....”
Carlos Almeida

Mais tarde, hei-de introduzir este texto, parte dele ou a ideia! O meu obrigado e as minhas desculpas!

5/18/2005 2:36 da tarde  
Blogger João Mãos de Tesoura said...

Vamos deixar em suspense a última cena deste capítulo, como deixámos a do capítulo anterior.
Começa agora novo capítulo; entra em cena Tiago, um angolano que nasceu no Lobito, filho de pai português e mãe angolana. Vamos descrever a meninice deste mulato em Luanda, onde fez o Liceu e conheceu a mãe de Ricardo, por quem se apaixonou.
Como dizia a Raquel, pretende-se uma descrição humana, apela-se à memória dos sentidos (cores, cheiros, sons, lugares...).
Isto promete!!!

5/18/2005 2:49 da tarde  
Blogger Raquel Vasconcelos said...

Oh caramba... mas porque raio n fiquei eu caladinha...
Eu cá só p dar bitaites...
Há excesso de sangue suor e lágrimas (ok, sexo à mistura) e esse tipo de escrita ainda está fora do meu alcance...

5/18/2005 11:48 da tarde  
Blogger João Mãos de Tesoura said...

A introdução foi de ruptura, mas o enredo vai alongar-se!
Fogo à peça Raquel!

5/18/2005 11:54 da tarde  
Blogger Raquel Vasconcelos said...

:P ao menos diz q recebeste... q é p eu saber, mesmo q n seja "utilizábilé"... ora n querem cá ber! :P

5/20/2005 9:33 da manhã  

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