sábado, março 05, 2005

Impulso (2)

Enquanto viajava de carro olhava pela janela, estava nervoso, o primeiro encontro! Como seria? Para distrair-se ouvia uma música no rádio, mas o seu pensamento voltava sempre ao mesmo ponto de partida, que pensaria ela dele, que pensaria ele dela? Já havia meses que se falavam, nunca se tinham visto a não ser por fotos ou pela webcam, o medo invadia-lhe o corpo e a mente...
(Ricardo)

Conduzia sem ver o que tinha à frente. O pensamento estava perdido naquela voz cujo corpo ainda não tomara forma. Algo o fez acordar e voltar à estrada que tinha como único objectivo conhecer aquela mulher.
O local tinha sido marcado por ela. Ele, que sempre se considerara um sedutor nato, um manipulador do mais hábil que há, deixara-se levar. Não sabia como. A situação tinha extrapolado os limites aconselháveis. A voz do corpo falava mais alto e as emoções obedeciam-lhe. Que era feito da razão? Desaparecera por completo.
Seguiu as indicações dadas. Desviou-se da estrada principal e infiltrou-se por um caminho estreito, que quase conhecia de cor apenas pela descrição feita e revista vezes sem conta.
(Cereja em fondue de chocolate)

O carro já percorrera umas centenas de quilómetros. Desligou a música, queria tirar partido da paisagem e o silêncio bastava-lhe. Uma dor invadiu-lhe o peito como se ficasse sem ar. Abriu a janela e deixou que o sopro ameno da primavera invadisse o habitáculo.
O destino estava mesmo à sua frente, não ia falhar o encontro, não depois de tanto envolvimento, de tanta cumplicidade. Pegou no telemóvel, ia telefonar-lhe.
(João Mãos de Tesoura)



As marcas dos insectos no pára-brisas denunciavam a viagem...