sábado, março 05, 2005

Impulso (6)

"Numa cama nunca! Não num quarto que me faz lembrar sexo conjugal!", disse-lhe ele num tom tão seguro que aparentava certezas que não existiam. Tomou-a em seus braços como numa pintura clássica, entre o seu corpo e o ar apenas um lençol branco caído até ao chão...
(Lagarto)

Ela não reagiu. Via-lhe agora o rosto, uma máscara veneziana sem expressão. Tentou tirá-la e só aí sentiu resistência. Ela balbuciou “tudo, tudo menos isso!”. Ricardo não conseguiu evitar o sorriso, era isto que ele esperava, ser surpreendido para além da sua audácia. "Espera!", disse-lhe Eva, "uma mulher nunca sai sem a carteira" e, apontando com o dedo, indicou-lhe um saco de viagem que se encontrava encostado a uma pequena cómoda. Pousou-a delicadamente no chão e agarrou o saco. Ela ajeitou o lençol à volta do corpo e disse-lhe, “vamos!”. Desceram no elevador sem se tocarem, mirando-se só. Entraram no carro e, num movimento brusco, Ricardo atirou o saco para o banco de trás. “És muito impaciente, podes ter partido os meus cristais...”, riu-se Eva. O ambiente estava criado.
(João Mãos de Tesoura)

Ele acelerou num misto de ânsia de chegar e vontade de se entregar já ali. Puxou de um cigarro que consumiu nervosamente num silêncio falso. "Para onde me levas?", perguntou-lhe ela depois de percorridos os exactos 5 minutos da precária existência do cigarro. "Vamos entregar-nos na natureza...”, ao que ela prontamente respondeu, “Grrrr! Olha que eu mordo!”, e agarrando-lhe a perna com força fez sentir as suas longas unhas por cima das calças. Ricardo não reagiu à dor, não a queria tocar. O desejo era demasiado forte e não queria estragar o momento. Saíram da estrada pouco depois, a ânsia de se tocarem não iria permitir maior viagem. O sinal foi dado por um sobreiro que ele fixara na vinda, uma árvore que se destacava por cobrir com a sua sombra um pequeno fio de água resistente aos primeiros dias de calor. Pararam. Ela não esperou.
(Lagarto)

Lançou-se no campo deixando cair o lençol. De braços abertos, sem nunca olhar para o carro, rodopiou numa dança que adivinhava o cio, que despertava todos os sentidos para um momento único, esperado, ansiosamente desejado. Ricardo saiu do carro e ela, sem demora, correu para baixo do sobreiro deitando-se na erva fresca que limitava o riacho. Com as mãos fez saltar água em movimentos erráticos, como uma criança surpreendida na contemplação da natureza.
Ricardo tirou os mocassins e dirigiu-se para ela. Era um homem interessante, não sendo belo não passava despercebido, tinha o glamour anglo-saxónico que herdara da mãe. A camisa e as calças em linho branco davam-lhe um ar angelical, distante da sua natureza, ele nunca fora inocente.
(João Mãos de Tesoura)



O ninho...

5 Comments:

Blogger lagarto said...

"Numa cama não! Não numa cama dentro de um quarto que faz lembrar sexo chato de casados há séculos!"- Disse-lhe ele num tom tão seguro que aparentava certezas que não existiam. Tomou-a em seus braços como numa pintura clássica, entre o seu corpo e o ar apenas um lençol branco caído até ao chão...meteu-a no carro e acelerou num misto de ânsia de chegar e de vontade de se entregar já ali- "não tenhas medo, esperei demasiado tempo para te fazer mal agora"- puxou de um cigarro consumido pelos nervos num silêncio falso, quebrado pelo conhecimento entre os dois da vontade de ambos..."para onde me levas?"- perguntou ela depois de percorridos os exactos 8 minutos da existência do cigarro.
"Vamos entregar-nos na natureza, onde todos os seres se entregam quando sentem a vontade animal do desejo carnal"- ela agarrou-lhe a perna com força fazendo sentir as suas longas unhas na sua carne mesmo por cima das calças...começara ali uma viajem pelo desejo dos corpos.
Saíram do caminho pouco depois...a ânsia de se tocarem não iria permitir mais tempo de estrada, se bem que o sinal foi dado por um sobreiro que ele vira quando vinha ter com ela, um sobreiro que se lhe destacou dos outros por cobrir ainda com a sua sombra um pequeno fio de água resistente aos primeiros calores...pararam então...ela não esperou.
Saíu do carro ao mesmo tempo que ele e foi tomada ali mesmo em cima do carro, sem nunca trocarem uma palavra. O lençol caíu, eles deslizaram com ele até ao chão...dele se fez uma cama...o sol no trigo dourado era agora uma imitação muito melhor da luz amarela que ela preparara com as velas no seu quarto...fizeram amor, paixão, até mesmo alguma violência que deixaria marcas...violência de impulsos que ambos sabiam que jamais esqueceriam...e muito pior...tocando-se várias vezes pela primeira vez, eles sabiam que aquele sobreiro fora testemunha da esternidade...

7/17/2006 10:53 da tarde  
Blogger João Mãos de Tesoura said...

Lagarto: Mudei um pouco o texto e acrescentei mais alguma coisa. Faço isso só para manter o espírito do texto. Se me quiseres bater... à vontade! :D
Abraço

7/18/2006 5:48 da tarde  
Blogger lagarto said...

não não, fizeste bem! eu ék ñ acompanhei isto desde o principio e verdade seja dita que isto das estórias se cruzarem pelo meio tb ñ ajuda à imediata compreensão...mas tu sabes o rumo k keres dar! tenho é pena de teres abolido a parte do trigo dourado k parecia a luz amarela das velas...já tinha essa imagem pintada na mha cabeça..lol!

7/18/2006 9:11 da tarde  
Blogger _+*Ælitis*+_ said...

Posso tentar? mas nada prometo... e muda o que achares necessario para guardarmos o sentido literario desta grande obra.

"Apesar das origens anglo-saxonicas, o lado africano rebelde, sensual e exotico tinha subitamente renascido em suas vezes e em todos os pontos de calor que o seu corpo agora sentia. O lençol branco levemente e sorrateiramente deitado no chão, na relva, debaixo desse imbondeiro cheio de historia poderia ter rapidamente mais uma por contar ao proximo traseunte que por la passasse. Um misto de medo e de desejo nascia nela, era tudo o que ela queria e o que mais temia. Entregar-se da maneira mais selvagem e ao mesmo tempo, ela queria que fosse puro. Puro o sentimento carnal, pura entrega, puro salto sem freios e amarras. Ela repensou e sorriu. Os unicos freios seriam as suas pernas a volta do corpo dele, para o prender para ainda melhor se ficar".

Achas que vale um chavo? lol

Beijokas

7/20/2006 5:38 da tarde  
Blogger João Mãos de Tesoura said...

É assim mesmo! Só com a vossa escrita e imaginação é que isto vai para a frente! Obrigado!
Façam o favor de publicitar a estória nos vossos blogues. Isto só terá sucesso se for lido!
Abraços e beijinhos

7/20/2006 7:48 da tarde  

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