Anjo caído (2)
Há sempre um dia em que alguém nos supera em matéria de manipulação. Ele era um homem brilhante, engraçado e sedutor, assim pensavam as pessoas que o conheciam superficialmente. Gostava de ser desejado e fazia-se sempre esperar. Falava com cada pessoa como se fosse realmente importante e única no mundo. Depois, usava-as para fomentar o seu sucesso e a sua brilhante carreira. Gostava de ser admirado, quase venerado. Ele conseguia criar uma relação de quase dependência com as pessoas que passavam pelas suas mãos, ficavam à espera duma palavra de aprovação e sentiam-se rejeitadas com uma crítica apenas. Era cioso da sua aparência e andava sempre impecável. Menos naquela noite mas o motivo era forte...
(Jacky)
No quarto, o ambiente era agora irrespirável. Por momentos viu o seu reflexo no monitor. Aquele não seria ele mas sim o outro, não queria continuar a viver assim, pensou. Pensamento vão este que o acalenta, jamais imaginaria um desfecho assim. Não valia a pena enganar-se mais, o post estava terminado e explicaria muita coisa, o suficiente para ele saber que não ficariam pontas de fora. Dele já não restava nada, os outros haveriam de compreender. O cigarro esquecido no cinzeiro consumiu-se sozinho deixando uma frágil forma suspensa em cinzas. “Que se lixe o cancro...” e tirou o último cigarro do pacote de Marlboro. O travo era diferente, como se fosse o último, e só por isso saboreou-o lentamente. Na testa, no corpo, nas mãos, o suor não enganava a tensão sentida, o sofrimento incontrolado.
(João Mãos de Tesoura)
Levantou-se e dirigiu-se inconsciente para a pequena varanda do seu quarto. Um arrepio percorre-lhe o corpo ao pisar, descalço, o chão de pedra refrescada pela noite. Apesar do desconforto, o ar fresco e a pedra fria despertam-lhe os sentidos e dão-lhe um vigor momentâneo.
(Whatever)
Ele sabia que o encontro seria fatal, mas nem o receio da morte o fez hesitar. Mirou o mar, a lua brincava no prateado da ondulação. As folhas do parque, essas, cintilavam na brisa outonal numa dança sarcástica, num gozo fúnebre que ele pressentia. Inspirou fundo, pegou na pistola que deixara em cima da mesa da varanda e encostou-a à face. A decisão estava tomada. Guardou a pequena arma no bolso das calças e perdeu-se novamente nas memórias.
(João Mãos de Tesoura)
Medo de quê?
(Jacky)
No quarto, o ambiente era agora irrespirável. Por momentos viu o seu reflexo no monitor. Aquele não seria ele mas sim o outro, não queria continuar a viver assim, pensou. Pensamento vão este que o acalenta, jamais imaginaria um desfecho assim. Não valia a pena enganar-se mais, o post estava terminado e explicaria muita coisa, o suficiente para ele saber que não ficariam pontas de fora. Dele já não restava nada, os outros haveriam de compreender. O cigarro esquecido no cinzeiro consumiu-se sozinho deixando uma frágil forma suspensa em cinzas. “Que se lixe o cancro...” e tirou o último cigarro do pacote de Marlboro. O travo era diferente, como se fosse o último, e só por isso saboreou-o lentamente. Na testa, no corpo, nas mãos, o suor não enganava a tensão sentida, o sofrimento incontrolado.
(João Mãos de Tesoura)
Levantou-se e dirigiu-se inconsciente para a pequena varanda do seu quarto. Um arrepio percorre-lhe o corpo ao pisar, descalço, o chão de pedra refrescada pela noite. Apesar do desconforto, o ar fresco e a pedra fria despertam-lhe os sentidos e dão-lhe um vigor momentâneo.
(Whatever)
Ele sabia que o encontro seria fatal, mas nem o receio da morte o fez hesitar. Mirou o mar, a lua brincava no prateado da ondulação. As folhas do parque, essas, cintilavam na brisa outonal numa dança sarcástica, num gozo fúnebre que ele pressentia. Inspirou fundo, pegou na pistola que deixara em cima da mesa da varanda e encostou-a à face. A decisão estava tomada. Guardou a pequena arma no bolso das calças e perdeu-se novamente nas memórias.
(João Mãos de Tesoura)
Medo de quê?
2 Comments:
Encarcerado no elevador, era uma boa imagem para descrever como se sentia. Não estava num beco sem saída: um beco tem sempre um caminho para se voltar atrás e ele já não tinha alternativa. O destino estava no quarto andar, naquele quarto que o tinha marcado a ferro e a fogo.
A porta abriu-se e ele saiu...
Não tocou à campainha. A porta estava encostada convidando a entrar. Empurrou-a vagarosamente num misto de deseja, ansiedade e pavor.
De dentro vinha apenas o som de uma música que tão bem conhecia, pois a cada telefonema, Carolina fazia questão de a por a tocar. Sabia que ele gostava.
Avançou aos poucos ao encontro do som que lhe despertava o corpo e a mente.Tentou distrair-se observando o ambiente:sóbrio, sofisticado, envolvente.
A sala estava vazia. "Estranho", pensou, até que viu um vulto mover-se na varanda. Caminhou sem desviar o olhar.
Uma calma histérica apoderou-se de Ricardo. Sabia que estava seguro, afinal tinha a sua "pequena companheira" no bolso.
Desviou o cortinado que o separava do seu objectivo e viu-se perante a sua musa. Carolina sorriu-lhe e estendeu-lhe um dos copos de vinho tinto que segurava.
Enviar um comentário
<< Home