Instalado o mistério, agora só faltava descobrir todas as peças do puzzle e depois juntá-las…
“ Porque raio me mentiu ela?”- pensava Ricardo enquanto se dirigia ao elevador.
Tão absorto estava que nem se dera conta de alguém que seguia todos os seus gestos.
“Vou pôr-me em campo e tratar de fazer alguns telefonemas!”
Começaria por telefonar para a empresa onde Eva trabalhava. Mas, à medida que organizava ideias e tomava decisões, ia-se instalando algum desconforto e muitas dúvidas.
Entrou no quarto e sem prestar grande atenção ao espaço que o rodeava, procurou o telefone...
(
Eva[são])
Do outro lado da linha o sinal continuo de "ocupado". O nervosismo começava a aumentar, pois cada chamada era uma tentativa falhada. O telemóvel de Eva estava desligado e do escritório dela ninguém atendia. O que se passaria? Sentia-se completamente desorientado.
Arrefecer as ideias. Era isso que necessitava fazer. Um duche talvez não fosse má ideia. Como um autómato dirigiu-se à casa de banho e abriu a torneira da água quente. Voltou atrás e olhou o telefone pensativamente. Entrou no banho para relaxar. Nada como um longo duche de água quente. Sempre fora este o método mais eficaz de por as ideias em ordem, nunca falhara, não iria ser agora.
Completamente absorto nem se deu conta da entrada de alguém no quarto. Subitamente apercebeu-se de que não estava só, pois havia qualquer coisa no ar que denunciava uma presença. Ricardo reconheceu o odor que lhe entrava pelas narinas e lhe enchia os pulmões. Eva estava ali. Cego de todos os sentidos nem se questionou como ela teria entrado.
Envolto numa toalha irrompeu no quarto. Não se enganara. Ali estava Eva, como uma miragem, mais sedutora do que nunca.
(
Cherry Pie)
Ricardo, estupefacto, balbuciou: mas, não vinhas... às cinco?
Eva: hmmm... parece que não gostaste de me ver... (sorriso)
Ricardo, disfarçando: sempre que te vejo fico assim, aparvalhado...
Eva: hahaha! Gostava de te ver com essa cara, há-de vir o dia...
Ele, aproximando-se, agarrou-a e olhando-a nos olhos penetrou para além do azul; o seu olhar era sedutor, era ele quem dominava. Eva, percebendo o momento, deixou-se ir na corrente do desejo. Ricardo levantou-a no ar e deixou-a enredar as pernas no seu torso. Enquanto se beijavam apaixonadamente, percorreu o quarto até a encostar à parede, mesmo ao lado da cama de dossel em ferro forjado, uma peça única, como todas as outras do hotel. Ela gemeu no embate, sorrindo de seguida a aprovar o desafio. Eva desceu com as mãos no peito e, num movimento só, arranhou-lhe a pele.
Ricardo: estás louca?
Eva, sorrindo: no rules... ok!
Ricardo: no skin... for sure!
Eva: hahaha! Adoro-te!
Deixando-se cair para o lado, Ricardo projectou-a para cima da cama. O colchão devolveu-a como uma mola num pequeno salto que a fez rir. Abraçaram-se e rebolaram na cama como dois miúdos. Eva ficara por cima dele, sentada, com um sorriso provocador.
Eva: fecha os olhos!
Ricardo: para quê?
Eva: nunca se questiona uma surpresa!
Ricardo, fechando os olhos, deixou escapar um longo suspiro como quem espera o prazer; sentia-se egoísta, queria receber. Eva, agarrando um lenço pousado numa das mesinhas de cabeceira, vendou-lhe os olhos.
Ricardo: que fazes?
Eva: calma, vais gostar!
Não lhe falaria agora, pensou, teria de haver uma explicação plausível. Aquela mulher nunca fora mistério, desde o início que lhe mostrou as cartas e ele conhecia bem as amarras e caminhos por onde ela andava. Fora sempre franca, nunca lhe escondera nada, nunca, nem os temas mais íntimos como um aborto...
Eva, agarrando-lhe um pulso, algemou-o à cabeceira num gesto rápido. Ainda não se tinha recomposto da surpresa e já Eva lhe algemara o outro pulso. Ela, pressentindo o espanto disse-lhe, “relaxa... estás por minha conta e vou-te levar aonde nunca foste, nem nos teus sonhos mais loucos!”
Batem à porta insistentemente.
Ricardo: o que se passa?
Agora o tom era de pânico. Eva, retirou-lhe a venda e colocando-lhe o indicador na boca fez, “Schhhh!”. Levantou-se, recompôs o vestido e dirigiu-se à porta da suite que ficava noutra sala. Ele conseguia ouvir as vozes em sussurro, como se quisessem esconder algo. O tempo parecia uma infinidade e Ricardo começava a impacientar-se, foi então que gritou, “Eva, então?!”.
Os passos fizeram-se sentir na sua direcção, não seria só ela, viria acompanhada. Entraram no quarto; ao lado de Eva uma mulher asiática, japonesa pelos traços ligeiramente angulosos que as diferenciam das chinesas; esta dispara de pronto: “Is this the guy?”. Eva, sorrindo, confirma com um movimento de cabeça. Saem do quarto deixando atrás de si a porta fechada. Ricardo não esboçou um gesto, não proferiu uma palavra. O assombro era tal que não percebera que estava encarcerado no seu próprio quarto.
(
João Mãos de Tesoura)
Preso ao amor...